sábado, 27 de setembro de 2014

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Todos os dias acordava segurando mais forte o travesseiro e soltava 15 minutos mais atrasada depois. Com isso, era inevitável sair esbaforida pela porta e rua afora. Sem olhar pra trás e vestindo o casaco, corria pra atravessar  evitando esperar o sinal fechar, cortava caminho como podia. Como era essa a rotina, tinha o trajeto mais rápido na cabeça de forma que as pernas sabiam para onde ir sozinhas.  Para evitar uma volta, passava por dentro de uma galeria que cedo assim, ainda estava vazia e as lojas fechadas. Nesse espaço onde desfilava sua pressa era observada por todas aquelas caras pálidas, melancólicas, congeladas em poses elegantes.
Eles trocavam de roupas, mas caras eram as mesmas sempre no mesmo lugar. Em pouco tempo tinha na cabeça onde cada um "morava", especialmente dois deles. Um de frente para o outro separados pelo corredor onde corria todos os dias. Evidentemente não esquecia que eram manequins em lojas, tão descartáveis quanto o lixo no final do dia. Mas estes, enquanto dentro de sua respectiva validade, estariam sempre olhando um para o outro romanticamente como haviam sido colocados apenas por acaso. O corredor em sua frente, que os separava implacavelmente, não tinha força para mudar a condição que eles se viam e por tanto sabiam. Nada que pudesse acontecer nele poderia tirar a atenção dos dois. A condição dolorosa e que eram postos e os dias que passavam um sabendo do outro sem que cruzem o corredor, eram imutáveis.
Podendo perceber o que acontecia neste fragmento de seu caminho diário, tomava alguns momentos para pensar nisto: talvez seria uma boa forma de entender alguns amores por ai...